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Nossos Heróis

O dia de domingo me persegue. O único dia em que assisto televisão é o pior dia para prestigiar a programação da TV aberta. Programas de auditório, humor cafona, sorteio da telesena, turma do Didi e, o pior de todos, Late Show (ver o melodrama animal de Luisa Mel devia fazer parte do cardápio de torturas nazistas). Enfim, toda essa "cultura" dominical vai sendo aturada, pelo meu cansado ser, até o adentrar da noite.


Após o único programa que se salva em uma dia inteiro de programação, O Fantástico, vem uma produção chamada de Big Brother., chefiada pelo inteligentíssimo Pedro Bial.
Ao iniciar do programa, Bial dá as saudaçãos aos telesectadores alienados e vai falar com os "brothers" confinados. Antes do contato ele solta a célebre frase:

"Vamos fazer contato com a nave Big Brother e ver como estão nossos heróis nesta noite."


Heróis????? O que? Como assim heróis? Desejei não ter escutado aquilo mas, contra minha vontade, foi isso que o Bial falou, em alto e bom som e com direito à simpatia global.

A imagem dos confinados apareceu na tela e vi sentado no sofá enorme branco, meia dúzia de pessoas, os "sobreviventes". Comecei a analisar cada um e ver que bela liga da justiça os brothers formavam. Basicamente eram: uma marombado filhinho de papai que nem trabalha e nem estuda; uma baladeira, que pelo fato de promov
er festas em seu apartamento na Barra da Tijuca ganhou o título de Promoter; uma caipira boazuda, que foi eleita a rainha do milho e concorreu ao titulo de Miss São José da Ladeira de Cima; um médico, o único com curso superior que arriscará tecer um diálogo lógico; um negro e uma favelada, que servem para cumprir o papel social do programa, mostrando que Big Brother também é cidadania.

Esses são nossos heróis. A Liga da Justiça Global é formada, quase em sua totalidade, por semi-analfabetos. Passam os dias trancafiados, sem fazer
absolutamente nada, morando de graça por 3 meses, numa casa top em luxo e acreditando que depois que saírem dali, todos serão cntratados como atores e irão estrelar a novela das 8. O único incômodo que há nesse antro de luxo e vida boa, são algumas câmeras que te filmam 24h por dia, mas até elas parecem desaparecer depois de algumas semanas.

Como domingo é dia de paredão, enquanto eu tecia esse meu pensamento, foram indicados dois brothers para a eleição do eliminado. Cada um tinha o direito de apresentar suas razões para que o público fosse convencido que ele merece ficar mais uma semana no reality show. E foi essa cena que mais me chocou. Vi ambos os participantes, literalmente, implorarem para permanecer na casa. Usavam argumentos que antes, eu só havia escutado de pessoas prestes a serem executadas. Falavam que o sonho da vida deles era estar no programa, que caso eles saíssem a vida estaria arruinada, que amavam aquilo ali, enfim, um discurso digno de piedade à vida.


Fui comparar esses heróis com os que eu considero realmente heróis. Comecei a imaginar a situação dos médicos, enfermeiros, soldados e enviados da ONU para campos de batalha, regiões de miséria inimaginável. Pessoas que deixam família, emprego e uma vida confortável, para salvar a vida de milhares de pessoas que clamam apenas para viver. Muitas morrem de fome, sede, ataques terroristas...AIDS. Pessoas que trabalham apenas pelo sentimento do dever cumprido. Estão lá, única e exclusivamente, pelo amor ao próximo.

Então, adjetivar Big Brother's de heróis, é no mínimo uma ofensa aos verdadeiros heróis mundiais. O programa significa para eles uma oportunidade de se tornar uma celebridade instantânea, a qual tem de aproveitar até a última gota de fama, porque esta tem prazo de validade muito curto.

Ainda bem que nosso mundo não necessita da proteção desses "heróis". Caso contrário, a miséria da África teria de esperar eles tomarem o banho de piscina matinal para poderem começar o expediente.